sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Je voulus quitter

Je voulus quitter l'île
Vers la mer infinie.

Je voulus quitter la terre
Vers un ciel étoilé.

Je voulus quitter mon corps
Vers des peaux étrangères.

Je voulus quitter l'amour
Et malgré moi je réussis.

Je voulus tant quitter tout
Puis je rencontrai le bleu dans ses yeux.

Et à présent je veux rester.

Para lá da tua pele

Para lá da tua pele
Não há aquele cheiro.

Cheiro doce
Não sei a quê
Cheiro que me preenche
Não sei com o quê.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Assalto

Vieram durante a noite
Forçando todas as fechaduras
Vieram de dentro
Arrombando todas as saídas.

Tiraram-me o sono
Esvoançando céleres como num sonho
Abriram-me as pálpebras
Escarnecendo, gritando, ecoando.

Puxei de um caderno
E com a tinta de uma caneta
Preparei a armadilha.

Prendia-as no papel
Onde nem se mexiam
Perderam asas, cairam
Mas tiveram o que queriam!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O corpo

O corpo desistira, abandonara-se a si próprio. Jazia agora numa praia sem mar à vista, coberto por areia de outras paragens, cujos finos grãos, pela acção acomodadora do tempo, haviam penetrado fundo, enchendo até mesmo o coração. Quando a neblina cerrada se retirou sem prenúncio, revelou-se um promissor mar sereno, de um azul brilhante, reflectindo carícias de um sol novo. E foi então que começou a soprar a doce brisa, dádiva marinha. Depressa expôs o corpo lívido à amenidade da recém-renascida paisagem litoral. O corpo ergueu-se, voltou a acreditar, ensaiou os primeiros passos como se fossem na verdade os primeiros. E eis que a brisa se tornou rajada, removendo os grãos instalados no interior; e leve, o corpo trilhou o caminho que o vento lhe indicava, semeado de promessas a que só um coração gelado por Invernos sem fim não se entregaria. Mas, de quando em quando, parava olhando para trás com insegurança. É que alguns grãos renitentes persistiam embutidos no coração e no cérebro, alimentados pelas forças reencontradas do corpo, e vibravam de saudade da praia mãe. Então o corpo, desejando deveras seguir em frente, gritava ao vento não sem algum desespero: "Mais forte! É preciso que sopres ainda mais forte!"

sábado, 17 de novembro de 2007

Lucerna corporis

Lucerna corporis est oculus. Si ergo fuerit oculus tuus simplex, totum corpus tuum lucidum erit; si autem oculus tuus nequam fuerit, totum corpus tuum tenebrosum erit. Si ergo lumen, quod in te est, tenebrae sunt, tenebrae quantae erunt!

Secundum Matthaeum 6, 22-23

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

The cord

It's a multilayered cord channeling an invisible matter; it grows outside in and few things are as resilient as its core. No matter what harm is done to its outter layers, the deeper it penetrates, the harder it gets to affect the protected flow. And if you let that innermost strong, still extraordinarily thin wire come into existence, then you can be certain that you'll be connected for life.

But can the superficial layers, once severely damaged, regenerate?

sábado, 10 de novembro de 2007

Talvez pudesse, se...

Talvez pudesse quedar-me ali, parado no tempo, contemplando a linha recta dos lábios, curvando-se timidamente num sorriso quando os nossos olhos se encontravam e desencontravam naquele fingimento de indiferença. Talvez pudesse viver para sempre preso no desejo de repousar os meus lábios sobre os seus, suavemente rosados e polidos. Talvez pudesse ali ficar, sem nunca os aflorar, amando-o com o olhar. Talvez pudesse, se...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A dualidade de amar

Il est humain de chercher la douleur et aussitôt à s'en délivrer. Les propositions qui sont capables d'y réussir nous semblent facilement vraies, on ne chicane pas beaucoup sur un calmant qui agit. Et puis, si multiple que soit l'être que nous aimons, il peut en tous cas nous présenter deux personnalités essentielles selon qu'il nous apparaît comme nôtre, ou comme tournant ses désirs ailleurs que vers nous. La première de ses personnalités possède la puissance particulière qui nous empêche de croire à la réalité de la seconde, le secret spécifique pour apaiser les souffrances que cette dernière a causées. L'être aimé est successivement le mal et le remède qui suspend et aggrave le mal.

Marcel Proust in Sodome et Gomorrhe

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

What if we were meant to be together
What if you were meant to be the one
I could hide a million years and try to believe
That any time the boy in mind will come and rescue me

Cause you're the fire, you're the one
But you'll never see the sun
If you don't know, you're right next to the right one
And I could call it many names
But its myself I need to blame
If you don't know, you're right next to the right one

In the end you've got a friend for lifetime
Truly there to truly care for you
I know you cry a million tears so I want you to know
That a pretty face can take you to places you don't wanna go

Cause you're the fire, you're the one
But you'll never see the sun
If you don't know, youre right next to the right one
And I could call it many names
But its myself I need to blame
If you don't know, you're right next to the right one

So in the end it all depends on whether you'll find
Warm embraces when I replace the one you had in mind...

Cause you're the fire, you're the one
But you'll never see the sun
If you don't know, youre right next to the right one
And I could call it many names
But its myself I need to blame
If you don't know, you're right next to the right one


Sung by Céline Dion

sábado, 3 de novembro de 2007

23

Mais fácil seria o abandono de mim
Seguindo a corrente da vida sem a viver
Resignando-me aos abismos inertes
Onde tudo é gélido e medíocre

Injecto no peito anestesiado
O meu próprio veneno regenerador
Pulsa mais forte o coração
Enche-se o corpo de sangue revitalizado
Respiro ofegante, movo-me frenético

E sinto com cada centímetro de mim
As imagens, os sons, os cheiros e a pele que toca
Engulo a vida que por momentos deixei passar
Que agora transborda e verte dos poros dilatados.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Esperança

Os muros que se erguem para nos barrar o caminho, monolíticos e insensíveis, não resistirão à impetuosidade do nosso amor imprevisto; e as asas dos nossos sonhos tatuados de utopia, levar-nos-ão para além dos horizontes visíveis.