domingo, 23 de dezembro de 2007

Noite de Inverno na ilha

Deitado. Está frio. Mas o vento sopra morno. O vento povoa a noite da ilha de criaturas fantásticas. Delas apenas os sons, as sombras. Umas colidem contra as janelas, outras apressam-se por entre folhas e ramos. Há ainda as que assobiam gravemente. Ou serão todos sinais das mesmas? Enterro-me mais fundo nos lençóis que tresandam à humidade que pesa no ar. O sono vence o medo inconsciente. Os seres ruidosos transportados nas rajadas são agora uma canção de embalar.

sábado, 15 de dezembro de 2007

6 meses («I love you out»)

Sometimes I float myself away
My freedom wants to stretch me out
I see the moon to its watery grave
I love you out
I have been coloured in and had
The light inside my eyes brightened
And when you smile you take me in
I love you out
You go in waves and come in light
And speak my name you speak it
You come with stars to fill up the night
With all that you have given me
I long to give as easily
I watch the stars slip off your cheek
I love you out
A hundred doves when I’m with you
My heart releases out of me
I’ll never want other than you
I love you out
You go in waves and come in light
And speak my name you speak it
You come with stars to fill up the night
And you fill it bright
Your love will light my way
Your kiss will be my pillow
Your breath will fill my sails
Your smile will leave me never, never, never

Sung by Carla Werner

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O peso das palavras

São pesadas as minhas palavras? Pois se me pesa a alma, como não pesariam as palavras. É que vêm de dentro; não daquele dentro que é vazio, nem daquele que dizemos ser mas que na verdade está por fora. São os lastros deste barco que é o Ser, que os recolhe ao navegar através desse hemisfério plano, aquoso e sem caminho de regresso que é a vida. Se não os atirasse ao mar de uma folha de papel, ou de um qualquer suporte mais difícil de traduzir em metáfora, afundar-se-me-ia a alma.
Mas também as há providas de asas. Só que a essas não as queremos deixar ir. E se por momentos as deixamos voar, é sempre amarrando-as bem a nós, para que voando nos elevem para lá de tudo o que nos submerge.

Darkness and light, that's what's inside!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

The stranger

Just a glance and everything changes. A whole new world of possibilities unfolds with the sight of those unknown eyes. What unpronounceable spell unleashes such feeling, i can't tell! And how silently bright the gleam upon that stranger's face! How unavoidable its warmth! I ask myself what the odds are. What unsuspected desire to love! And then comes the time to leave. And it becomes so hard to turn my back on all the promises glimpsed. How i would want to see him again, even to follow him. Nonsense! Soon i will forget.

I don't know if my heart can take much more.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Regressar

E mais uma vez tanto mudou. Regressar. Preciso ouvir o que as ilhas têm para dizer de novo sobre mim. A verdade. É sempre o que dizem.

domingo, 2 de dezembro de 2007

O fim [ficção]

Sentara-me ao seu lado, de alma corroída pela dor da minha decisão. Olhava no vazio, procurando fugir àquele olhar inocente que ainda me fazia vibrar de amor, como naquele primeiro dia em que me sentira fulminado de águas límpidas. Esforçava-me por cerrar as narinas àquele perfume que nunca soube descrever, para que não deitasse por terra todas as muralhas que a custo lograra erguer.
- Estou cansado. Tão cansado.
- Eu sei. Não compreendo. Para ti nunca é suficiente.
- Talvez um dia percebas. Quando sentires que não é suficiente.
- Pois. Talvez. Mas eu amo-te.
- Pergunto-me se saberás mesmo o que é amar. E dói-me. É que te amo tanto.
- Mas então...
- Não o posso fazer sozinho. Não o posso fazer pelos dois. Tem de acabar. De que serve dizeres que me amas, se quando a voz se cala a solidão se instala de novo, e os gestos não são mais que ausência impenetrável, bloco de mármore pálido e frio, contra o qual esbarra o meu grito de necessidade, aquele que implorou amiúde que te entregasses a nós?
- Lá estás tu e as palavras.
- Se pudesses compreender que eu sou estas palavras e todas as outras que para ti são vento estéril, sobretudo quando não agradam ao teu egoísmo. Porque para ti está sempre tudo bem. É por isso que tenho de nos deixar para trás. Porque estou cansado do meu próprio eco. Porque estou fora de ti e tu estás entranhado em mim.
- Tu é que sabes. Não posso fazer nada.
Levantei-me. Ouvir mais seria insuportável. Ficar seria submeter-me a uma morte lenta. E se me morre a alma, que me resta?
Então afastei-me com lágrimas petrificadas na garganta.