terça-feira, 30 de junho de 2009

Fragmentum V

Relembro ainda do Alentejo
aquele intenso arrebol.
No horizonte onde nasce o Tejo,
derramava seu sangue o sol.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

À un gentil belge

Le long de la Sambre, comme dans un tableau verdoyant,
On causait sous un tiède soleil printanier
Moi, de mon français si souvent hésitant,
Toi, avec cette gentillesse qui m'a toujours tant rassuré!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Estilhaços de um dia

Manhã de Séneca, tradução insatisfatória, espondeus e créticos ciceronianos, hexâmetros renascentistas. Telefonema de uma mãe que chora e a onerosa obrigação do sangue. Um homem morto, coberto por rendilhados brancos, ouvindo conversas temperadas de lágrimas, palavras fracassadas de consolação, e o cheiro ao mofo sagrado. O meu dever, dizem-me. Desencontros e beijos de partida desejando ficar. No rio inundado pela noite, derramo o dia. O meu dever, dizem-me. Mas não mo dizem. Sou eu, sempre eu. Adormecer, por fim.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Pequena memória insular

- Aqui-d'el-rei que aqueles diabos me comem os figos! - gritava minha avó correndo para a varanda, onde agitava a linha que fazia com que chocalhassem as latas estrategicamente dispostas na horta, para afugentar o bando de estorninhos de plumagens metálicas que, em grande algazarra, assediava as duas figueiras carregadas dos frutos doces como mel. Cumprida a sua missão, reinando, logo regressava à cozinha a amanhar os inhames, que ao almoço acompanhariam a linguiça, como eles picarota e sua companheira na travessia do canal para findar ali fritinha em banha de porco derretida na frigideira de minha avó.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

2 anos

Dos meus braços uma vontade silente
de te envolver se desprende desmesurada,
e dos meus lábios, esvoaçando, um beijo fremente
parte ao encontro da tua pele bem amada.

Estagna-se-me a alma no azul olhar inocente,
enquanto o corpo segue a minha mão açodada,
discorrendo sobre o teu peito cedente
ao furor de uma Vénus desbridada.

Envoltos no olente humor amoroso,
exsudado pela mistura de corpos e almas,
cumpre-se o sentimento a custo conquistado;

É que nos agarramos a este amor nem sempre ditoso,
por incompreensão lançado em dolentes chamas.
Mas aos que verdadeiro o têm espera-os um doce fado.

Táim i ngrá leat.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mots d'autrui VI - Os grotescos

Grotesques

Leurs jambes pour toutes montures,
Pour tous biens l'or de leurs regards,
Par le chemin des aventures
Ils vont haillonneux et hagards.

Le sage, indigné, les harangue;
Le sot plaint ces fous hasardeux;
Les enfants leur tirent la langue
Et les filles se moquent d'eux.

C'est qu'odieux et ridicules,
Et maléfiques en effet,
Ils ont l'air, sur les crépuscules,
D'un mauvais rêve que l'on fait;

C'est que, sur leurs aigres guitares
Crispant la main des libertés,
Ils nasillent des chants bizarres,
Nostalgiques et révoltés;

C'est enfin que dans leurs prunelles
Rit et pleure - fastidieux -
L'amour des choses éternelles,
Des vieux morts et des anciens dieux!

- Donc, allez, vagabonds sans trêves,
Errez, funestes et maudits,
Le long des gouffres et des grèves,
Sous l'oeil fermé des paradis!

La nature à l'homme s'allie
Pour châtier comme il le faut
L'orgueilleuse mélancolie
Qui vous fait marcher le front haut,

Et, vengeant sur vous le blasphème
Des vastes espoirs véhéments,
Meurtrit votre front anathème
Au choc rude des éléments.

Les juins brûlent et les décembres
Gèlent votre chair jusqu'aux os,
Et la fièvre envahit vos membres,
Qui se déchirent aux roseaux.

Tout vous repousse et tout vous navre,
Et quand la mort viendra pour vous,
Maigre et froide, votre cadavre
Sera dédaigné par les loups!

Paul Verlaine

sábado, 6 de junho de 2009

Fragmenta Azorica metrica - I

Terras Oceano in mari olim finxit quidquam numen
nubiferas; nam bruma illas tegit atque occultat.