sábado, 26 de janeiro de 2008

Quereríamos

É como uma pedra gélida de ângulos cortantes que se instala no coração. E retorce-se dilacerando o peito. Quereríamos arrancar o coração, deixar de sentir, morrer apenas um pouco, contanto que aliviasse a dor. Quereríamos ter alguém a quem fizesse diferença, nas noites em que a solidão alastra.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Lisboa : visões

Hoje vi Lisboa num quadro de tons de azul-marinho, tornando a cidade mais branca, menos caótica, dormindo à beira d'água, o tumulto dissimulado. E ao largo algumas velas passavam, aos meus olhos estáticas, fixas contra o fundo cerúleo. Hoje vi Lisboa pintada por uma tarde soalheira de inverno.


A cidade derramada em luzes no rio negro. O seu brilho engolido pelas águas nocturnas, enquanto outras se esquivam aéreas, de encontro à margem esquecida.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Cri proustien

Ô angoisses d'un esprit proustien!
Ô insouciance voulue, toujours inachevée!
D'un coeur lourd qui se heurte et saigne
Sous les coups intermittents de la jalousie!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Arnheim

J'aurais peut-être le coeur plus léger si l'on m'accordait l'entrée au paradis d'Arnheim. Quel bonheur m'envahirait si je pouvais glisser sur ces eaux d'une pureté invraisemblable, emporté par ce crescent féerique d'ivoire en contemplant les paysages de miracle que seuls des mots nous apprennent.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Verba aliena I - Truth

Truth is not always in a well. In fact, as regards the most important knowledge, i do believe that she is invariably superficial. The depth lies in the valleys where we seek her, and not upon the mountain-tops where she is found.

Edgar Allan Poe, The Murders In The Rue Morgue

sábado, 5 de janeiro de 2008

Naquelas manhãs

Naquelas manhãs há plenitude no despertar. O sol nasce azul por entre pálpebras, brilhando só para mim; o ar é quente e seguro, ali onde a pele branca é macia.
Naquelas manhãs há o futuro capturado no presente; e o passado cai no esquecimento.
Naquelas manhãs o mundo não renasce no meio da solidão. Há dois corpos que repousam um no outro, que se reconhecem, que se assumem, que se aceitam: amam-se.
Se há momentos de pura felicidade, então é naquelas manhãs que os encontro.