quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

amoris prudentia

Escrevê-lo seria arrancá-lo ao sonho, impor-lhe limites, fixar esperanças demasiado reais para que não conduzissem a uma inelutável desilusão severa. Deixo-o então fora das palavras, porque um dia terei de acordar uma outra vez e mais um sonho cairá no esquecimento.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Le flacon

O frasco que contém o veneno - aquele que agora de novo se espalha célere pelas entranhas debicando como abutre pedaços daquilo que não tem nome e te habitava e agora apodrece - partiste-o de novo com as próprias mãos. E agora espantas-te que sob a pele não haja nada e olhas-te como àquelas crisálidas que em criança encontravas vazias mas intactas, relíquias de uma metamorfose fingida que nunca envolveram. 

Trempé par cette douleur qu'il ne ressentait point, il songeait déjà à ce prochain verrier qui viendrait sûrement refaire le flacon dont il aura toujours besoin pour contenir ce venin qui coule dans son âme comme le sang dans ses veines. 

Ma quante volte lo spezzarai ancora? Forse non troverai mai chi te lo rifaccia, perchè ormai è troppo fragile il vetro, così forte il veleno. 

domingo, 8 de julho de 2012

Oscilações

Semântico um olhar vago atirado contra a fachada que uma noite de Lisboa sublinha. L'esprit plein d'un horizon diffus, incertain, attirant toutefois. Self-imposed renunciation, lest sin should tear down frail barriers.

A janela corta em dois o céu em que renasce o azul que a deusa matinal vem orlar com manto alaranjado. Afinal, na memória só o calor do teu corpo adormecido é substância.

sábado, 7 de julho de 2012

Verba Aliena XIV - uenite nymphae

       


       Náiades, vós, que os rios habitais
que os saüdosos campos vão regando,
de meus olhos vereis estar manando 
outros, que quási aos vossos são iguais.

       Dríades, vós, que as setas atirais,
os fugitivos cervos derrubando,
outros olhos vereis que, triunfando,
derrubam corações, que valem mais.

       Deixai as aljavas logo, e as águas frias,
e vinde, Ninfas minhas, se quereis
saber como d' uns olhos nascem mágoas;

       vereis como se passam em vão os dias;
mas não vireis em vão, que cá achareis
nos seus as setas, e nos meus as águas.

Luís de Camões

domingo, 8 de abril de 2012

Fragmentum XIX - Aguilhão

Quando o aguilhão de um deus visceral rasga o véu delicado, envenena-se a certeza, descobrem-se horizontes indesejados. Vislumbre de verdade ou pedaço de mentira?

sábado, 7 de janeiro de 2012

Fragmentum XVIII - Símile

Agora arrastando atrás de si a trouxa das responsabilidades, retornado ante o mar fogoso e livre da sua infância, o pensamento vertia-se-lhe sobre o passado. Assim, sob um céu desanuviado de inverno, se atira contra a laje uma onda de azul profundo e, exibindo primeiro o seu ventre sinistramente esverdeado, desfaz-se em turquesa antes de se metamorfosear em espuma nevada que vai adornar a rocha negra.