terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ilhéus XVIII - Ainda


Nos teus olhos, onde ainda procuro
reflexo de um oceânico azul inibido,
de subterrâneas correntes que ainda
são rio a vibrar nas minhas margens.

Nos teus olhos, onde ainda procuro
um céu mais próximo retumbando
deuses de vozes troantes ainda
ignaras de absolutos.

sábado, 24 de agosto de 2013

Passio Amatoris


- Desine insanire et sacrifica rationi.
- Non facio. Amator sum.

Tunc iudex crudelissimus iubet cor ungulis lacerari, cupidinem in eculeo torqueri.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Verba aliena XVII



Glosa

Que voz se desprende,
hesita, tropeça?

Que pedras tacteia,
que ramos alcança?

Que fonte pressente?
Que rio procura?

Que ritmo persegue,
que palavras ama?

Que sombras repele,
que luzes derrama?

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

hic habitant minotauri

Aqui habitam dois minotauros. Sou os dois. De quando em quando, aqui entram dois Teseus. Um vem para matar; o outro para compreender. Sou os dois. Aqui duas Ariadnes seguram os fios que se desenovelam afastando-se de êxitos opostos. Sigo os dois.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Ilhéus XVII


Aqui te deixo por agora
resignado com a pressão
do toque que é esperança
da esperança que é mar
e se retira ante os limites
daquilo que não deveria
ser lícito que os tivesse.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Fragmentum XXI - Saudade procelosa


Agitam-se em torno do âmago os filamentos da saudade
e assim no basalto as algas sob a fúria da vaga procelosa.

terça-feira, 12 de março de 2013

Verba aliena XVI - omnia reuelabitur


Non enim est aliquid absconditum , nisi ut manifestetur, nec factum est occultum, nisi ut in palam ueniat.

Mc 4, 22 (Vulgata)

segunda-feira, 11 de março de 2013

Níall (II)


Ali transfixava-o a diva torrente de fluir eterno, as entranhas como seixos rolando sem esperança de atingir o Oceano, o esgar de quem dilui dor em singular ledice. De tal modo o castigavam deuses, in saecula saeculorum.

domingo, 3 de março de 2013

Níall (I)


Sob teixos, as águas indolentes passavam cantando promessas indecisas. Níall ouviu, cedeu, imergiu no curso sem retorno. Vitorioso o rio proferiu num murmúrio a esfíngica questão: "Em mim, que procuras, mortal? A foz ou a nascente?"

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ἀπάθεια


um deus deserta
deixa vazio apatia 
dentro e em torno
do céu azul desfaz
a pelágica semântica

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fragmentum XX - Praesentia bifrontia


Na soleira de Jano, um deus ignoto senta-se perplexo ante o presente bifronte.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Verba Aliena XV - L'insonnia del vecchio

Anche quella notte fu inquieta ma non sgradevole. L'insonnia prolungata è sempre un po' delirante. Non tutte le cellule rimangono deste. Certe realtà scompaiono e quelle che restano deste si sviluppano senza freno. Il vecchio sorrideva a se stesso come a grande scrittore. Egli sapeva di aver da dire qualche cosa al mondo, solo in quel dormiveglia non sapeva bene che cosa. Però era cosciente di essere a mezzo addormentato e sarebbe pur venuto il giorno e la luce a completare la sua mente.

Italo Svevo, in La novella del buon vecchio e della bella fanciulla