quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Sinais de desespero

Esqueci o teu rosto. Perdi dentro de mim os detalhes que tão minuciosamente recolhi, aqueles que me permitiam reconstruir-te quando não te tenho por perto. Mas não o olhar. Esse não te pertence. É filamento frágil e efémero que se gera no espaço entre os teus olhos e os meus. E então tenho-te por momentos. Capturado nessa tua insinuação cruelmente ambígua, esforço-me por projectar até ti a massa viscosa da minha paixão. Esquivo, retalias com indiferença que não compreendo. E aqui me encontro prostrado, carregando este vazio repleto de dor.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

L'ange malveillant

Comme un ange malveillant, il descendit de ce ciel infernal pour anéantir le bonheur. De ses griffes il voulut arracher mon Coeur, et moi, aveugle, je l’ai déposé sanglant à ses pieds.

Il est parti, et mon âme désabusé...

sábado, 20 de janeiro de 2007

"Sacrifie-moi aux Dieux des amours amnésiques"

A dor de não ter o que ardentemente desejo. A perfídia de um Deus em que não quero acreditar. A prisão de um quarto que não o trará até mim. Sacrifiquem-me antes a esses deuses do esquecimento. Não. Não o quero esquecer...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

L'absence

Comme tous ceux qui possèdent une chose, pour savoir ce qui arriverait s'il cessait un moment de la posséder il avait ôté cette chose de son esprit, en y laissant tout le reste dans le même état que quand elle était là. Or l'absence d'une chose, ce n'est pas que cela, ce n'est pas un simple manque partiel, c'est un bouleversement de tout le reste, c'est un état nouveau qu'on ne peut pas prévoir dans l'ancien.

Marcel Proust

sábado, 6 de janeiro de 2007

Rio de nuvens

Naquela manhã ainda tão jovem, não estava preparado para o que aquela paisagem, que todos os dias percorro com o olhar, me tinha a revelar. Não me apercebi ao iniciar a travessia da ponte, absorvido que estava nas palavras de Proust. Foi quando, por um breve momento entre o sonho e a realidade, ergui a cabeça para olhar à minha volta; foi nesse instante que vi o rio que agora era de nuvens brancas, um vasto tapete aparentemente imóvel, que só nas suas margens se expandia e contraía lentamente. E a terra recuara; a cidade suavemente acariciada, submergida pelas línguas vaporosas que se insinuavam, ora avançado, ora retraindo-se inseguras. Por cima, a lua, teimosa, brilhava ainda no céu azul da manhã recém-nascida.
Ao deixar esta sublime visão para trás, pensei: Estranho amor o que une o Tejo a Lisboa!