sábado, 6 de janeiro de 2007

Rio de nuvens

Naquela manhã ainda tão jovem, não estava preparado para o que aquela paisagem, que todos os dias percorro com o olhar, me tinha a revelar. Não me apercebi ao iniciar a travessia da ponte, absorvido que estava nas palavras de Proust. Foi quando, por um breve momento entre o sonho e a realidade, ergui a cabeça para olhar à minha volta; foi nesse instante que vi o rio que agora era de nuvens brancas, um vasto tapete aparentemente imóvel, que só nas suas margens se expandia e contraía lentamente. E a terra recuara; a cidade suavemente acariciada, submergida pelas línguas vaporosas que se insinuavam, ora avançado, ora retraindo-se inseguras. Por cima, a lua, teimosa, brilhava ainda no céu azul da manhã recém-nascida.
Ao deixar esta sublime visão para trás, pensei: Estranho amor o que une o Tejo a Lisboa!

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