quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ilhéus ΙII - laetum in temporem redire


Ὦ ἀγλαὴ Φύσι με τοῦ καλοῦ μῆτερ δέχου
.

Somente procuro um pouco de sombra
sob o verde sempre viçoso da faia em flor,
entre o contínuo chilrear de alegres pardais
e o esporádico grito estridente do negro melro.
Por leito, o fofo esfagno aromático, suavemente aspergido,
onde um dia, respirando o telúrico silêncio da ilha,
a teu lado me deitei envolvido na perfeição
de um amor sem raias.

domingo, 17 de maio de 2009

Verba Aliena VIII - Sossego

Und ein Weilchen lang lag er ruhig mit schwachem Atem, als erwarte er vielleicht von der völligen Stille die Wiederkehr der wirklichen und selbstverständlichen Verhältnisse.

Franz Kafka, in Die Verwandlung

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O cristal

Quando à minha volta grassam sentimentos vítreos, estilhançando-se no choque da incompreensão, e outros, erguidos sobre o vazio, em betão hipócrita, nédios de egoísmo, corroendo as entranhas dos pobres de espírito, não deverei eu preservar este puro cristal, que dos teus olhos cerúleos se mineralizou no meu coração? Que doce se faz esse sofrimento, contrastado por instantes de felicidade indízivel, ante a opção de uma solidão sem fundo, esvaziada de humanidade; pois se dos destroços da dor se me regenera o espírito em novo ciclo, ao toque ardente da tua pele!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Fragmentum IV

Doucement, il se glissa vers un court sommeil - encore une de cettes petites morts qui mènent à cet indispensable oubli momentané de tout ce qui nous accable - plongé dans une mer émotive de Debussy.

sábado, 9 de maio de 2009

Num postal

Perguntava-me, que escreveria eu num postal a oferecer a um amigo que partia, tendo visitado os Açores pela primeira vez. Apanhado de surpresa, apenas me ocorreu:

Que guardes no coração um pouco de bruma misturada com sol incerto, e no olhar, derramado até ao mar, um pouco de tanto verde cobrindo o basalto negro destas minhas ilhas.