domingo, 29 de abril de 2007

Percurso

Olho para trás. De onde venho espraia-se um rasto de destruição. Cauda ensanguentada de cometa. Poças de lágrimas espalhadas pelo solo pejado de fragmentos de dor. Não a minha. Essa carrego cá dentro. Não é ela que me preocupa. Estendo-lhes a mão. Mas tem espinhos. Não me consigo livrar deles. Dos espinhos. Não os vejo. Dizem-me que estão lá.
Em frente o caminho é incerto. A luz filtrada pela bruma impede-me de ver com clareza. Olhos sensíveis. Avanço não sem medo, lentamente. Curiosidade. Desejo de fascínio. Ofuscar-me.
E atrás os gritos lancinantes, os dedos gélidos do passado esforçam-se por invadir o presente. No fim do caminho o abraço enigmático da Morte. Effroi! Mas Tempo dá-me a mão firme, implacável. L'Ennemi! Conformo-me com a minha condição. Olhar o céu, o mar, e sorrir.

The flame drowned in boiling water

The flame drowned in boiling water,
Burning nevertheless.
The water boils.
The flame burns.

But in me the water wins,
It flows, foreseeing change.

And i regret your forlorn hearts.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Nameless

Drifting in dark currents, there's some warmth now. I find some comfort in loneliness; it's easier this way. Unwilling to decide. So afraid of compromise. Yet something lurks in the deep. I can see it glimmering far below me. Will it hurt? Will it love? I wonder if i'll know how to face it, if i'll even recognize it. I'm not ready for it anyway. For now i'll just stare at the sky, dreaming of how it would feel if i could fly.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Deus

Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfície tão limada,
É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto engenho humano não se estende.

Luís de Camões

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Correntes

Correntes traiçoeiras agitam as profundezas. Inesperadas como o amor. Mas deixam-no à deriva. Que ao menos apenas arrastassem o meu corpo, a minha alma. Entorpecidos.

sábado, 21 de abril de 2007

J'attendais / Infância

Todo aquele tempo a renegar o Homem. Desgraçada condição. Exorcizar a minha humanidade. Apenas animal. Selvagem. Sim, era o que desejava. E olhava o mar - "Porque me afogas?". E contemplava o céu - "Porque me exiges asas?". Nas mãos um livro contando a história que queria viver - "Qualquer lugar, mas não aqui, não agora!".
E um dia surgiu o amor. Imperfeito de humanidade. Foi então que me rendi a ele, a ela. Mas por vezes ainda oiço o vento murmurar; e o mar segredando-me "Vem. Deixa-te afogar."
J'attendais...

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Risus stellarum

«- Quand tu regarderas le ciel, la nuit, puisque j'habiterai dans l'une d'elles, puisque je rirai dans l'une d'elles, alors ce sera pour toi comme si riaient toutes les étoiles. Tu auras, toi, des étoiles qui savent rire!»
Et il rit encore.
«Et quand tu seras consolé (on se console toujours) tu seras content de m'avoir connu. Tu seras toujours mon ami. Tu auras envie de rire avec moi. Et tu ouvriras parfois ta fenêtre, comme ça, pour le plaisir... Et tes amis seront bien étonnés de te voir rire en regardant le ciel. Alors tu leur diras: "Oui, les étoiles, ça me fait toujours rire!" Et ils te croiront fou. Je t'aurai joué un bien vilain tour...»
Et il rit encore.

Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 8 de abril de 2007

Reflexos do passado (encore)

Te souviens-tu? Cette mer dont tu regardais sans cesse les moindres changements de surface; cet horizon que tu voulais tant franchir, ton avenir rêvé. Tu songeais à ces eaux où glissaient féeriques les objects de tes passions, désir de plonger.
Et puis un jour je t'ai perdu. Je ne te sais vivant que par l'émotion que j'éprouve en contemplant ces paysages que tu hantes encore.
Tu me manques. Rien qu'un petit espace, une toute toute petite trace...

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Ilha

Pudesse eu ser ilha, para que apenas o mar me prendesse. Os meus olhos lagoas, espelhando o céu até ao leito. A minha pele o solo irrigado de sangue, engendrando vida. A minha boca vulcão, expelindo lavas ardentes - palavras incomensuráveis de amor.

Sonho. Os meus cumes fustigados pela tempestade.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

"Unravel"

While you are away
My heart comes undone
Slowly unravels
In a ball of yarn
The devil collects it
With a grin
Our love
In a ball of yarn
He'll never return it
So when you come back
We'll have to make new love

Björk