Era, agora mais do que nunca, para oeste que se lhe projectava a alma, agulha magnética querendo quebrar o vidro que a contém. Sepultado na cidade, sabia-o longamente distante na ilha. Quando os primeiros dedos da noite vinham apagar os espaços de azul que lhe recordavam os dois pedaços de céu profundo onde, há mais de três anos atrás, guardara o coração, forçoso se lhe tornava redefinir o processo da memória associativa, única droga eficaz no acalmar dos sintomas lancinantes da saudade. Começava então por percorrer a pele dele nas orlas das nuvens esparsas, enrubescidas pela luz marcescente de um astro já declinado. Terminava acariciando os cabelos teimosos nos contornos das sombras de árvores debruadas contra o firmamento indeciso do crepúsculo. E na fresca aragem nocturna de um inverno senil, insinuava-se sobre os lábios o beijo primaveril que prometia uma convalescença próxima.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário