quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Findchán

À mão que lhe apodrecera por a ter colocado em nome de Deus sobre a cabeça do homem que amava - um assassino, diziam - Findchán enterrou-a antes que mãos de outros o sepultassem. Resignado com o castigo que então cria justo, chegou o dia em que forçoso lhe era trocar o mundo pelo lugar que lhe fora destinado nos reinos inferiores. Aí, comprazendo-se pela eternidade na companhia de sábios daemones benévolos, considerava os sucessos dos que ainda vivos iam navegando nas correntes vagarosas da História. Era com um sorriso sombrio, apenas esboçado, que via Deus tirano regozijando-se nas miríades de mãos humanas que impunham, em seu nome, a morte sobre cabeças inocentes. Findchán, desprezando semelhante hipocrisia, deixara já de tentar compreender porque não se lhes gangrenavam os membros revigorados pelo ódio, quando o seu fora condenado por amor.

1 comentário:

Rute disse...

Maravilhoso!

"Findchán, desprezando semelhante hipocrisia, deixara já de tentar compreender porque não se lhes gangrenavam os membros revigorados pelo ódio, quando o seu fora condenado por amor." <3