quinta-feira, 28 de junho de 2007

Azorean torpor


Um céu de algodão sujo tolda o arquipélago das nove ilhas; o «mormaço» apaga os contornos do mar e da terra, e, amolecendo os pastos à custa do proprietário e do pastor, dilui e arrasta as vontades, dá a homens e a coisas uma doença quase de alma, a que os ingleses, médicos do bem-estar, puseram uma etiqueta como quem descobre uma planta nova neste mundo seco e velho: "Azorean torpor".

Vitorino Nemésio



Ainda que longe das ilhas, no clima decidido de Lisboa, o torpor desce sobre mim de quando em quando, encobrindo sentimentos, os bons e os nefastos, cortando temporariamente os filamentos que a eles me ligam. Por dentro perco de vista os contornos da alma, embebida na fatalidade das origens.

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