domingo, 10 de fevereiro de 2008

De nocturna solitudine

Nas noites em que não temos ninguém que nos adormeça, embale na cadência de um respirar que não é o nosso, envolva numa estufa de odores alheios mas familiares e amados, nessas noites, deveriamos vaguear sob o céu nocturno, numa praia onde o mar nunca adormece, nas ruas de uma cidade onde o silêncio está de passagem, num campo aberto respirando a aragem ligeira da noite e onde as estrelas perdem todo o pudor, e em tantos outros lugares que o repouso do sol reinventa. Porque ao ar livre a solidão enche-nos de vida e de coragem, acicata-nos os sentidos, inebriante suficiência de nós mesmos. Mas entre quatro paredes, decompõe-nos em fraquezas, afoga-nos nas profundezas gélidas das nossas inseguranças, empurrados pelo ar pesado e imundo que respiramos a custo, e o sono abandona-nos incapazes de acreditar que novo dia virá, porque em nós se apagou a luz.

1 comentário:

Filipe Gouveia de Freitas disse...

Mas o dia novo vem sempre!