sábado, 24 de abril de 2010

O lastro

A cabeça enterrava-se na almofada à semelhança de um lastro. Era como se todo o corpo estivesse submetido a uma improvável gravidade horizontal, que o compelia a despenhar-se sobre as faces atormentadas. Sob as pálpebras serpenteavam medos de sempre, cruelmente comandados por um sentimento de incapacidade que o arrastava para o desespero numa lentidão precipitada. Fora, a luminosidade insalubre da cidade invadia o quarto: violentava a noite e a morte que procuravam em vão um descanso de trevas. Foi então que a luz lhe matou a esperança. E ele, por sua vez, pediu ao sono que o matasse.

1 comentário:

Iúri disse...

É belo e triste o que dizes...