Sei-me bicho estarrecido no negrume
de uma furna de Nemésio (...)
Onde houve lava, arrefeceu num colapso
de vazio (...)
Lambo do musgo a humidade condensada
dos meus dias (...)
Por onde a luz se esgueira espreito
o Tempo que não há cá dentro e
(...)
evolou-se a morte num grito sinistro
de cagarro (...)
Sei-me homem enfraquecido
Numa cidade que já morreu.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
terça-feira, 27 de abril de 2010
Renúncia
A noite traz-me versos em desassossego,
Esvoaçando por aqui num tumulto cego:
A mim que não sou poeta!
Recuso, excomungo, abjuro!
Derrotados uns dispersam,
Outros vencem irredutíveis
A minha mão forçada contra papel.
E sempre a inquietante evidência:
É em mim que a noite os colhe!
Esvoaçando por aqui num tumulto cego:
A mim que não sou poeta!
Recuso, excomungo, abjuro!
Derrotados uns dispersam,
Outros vencem irredutíveis
A minha mão forçada contra papel.
E sempre a inquietante evidência:
É em mim que a noite os colhe!
sábado, 24 de abril de 2010
O lastro
A cabeça enterrava-se na almofada à semelhança de um lastro. Era como se todo o corpo estivesse submetido a uma improvável gravidade horizontal, que o compelia a despenhar-se sobre as faces atormentadas. Sob as pálpebras serpenteavam medos de sempre, cruelmente comandados por um sentimento de incapacidade que o arrastava para o desespero numa lentidão precipitada. Fora, a luminosidade insalubre da cidade invadia o quarto: violentava a noite e a morte que procuravam em vão um descanso de trevas. Foi então que a luz lhe matou a esperança. E ele, por sua vez, pediu ao sono que o matasse.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Ilhéus XI - Deixei-te
Deixei-te de pés enterrados na areia negra,
Sentias na pele o mar novo tépido das ilhas.
Deixei-te estendido no basalto aquecido ao
sol e sobre o esfagno da caldeira e aquele
silêncio de ausência das coisas dos homens.
Deixei-te no ponto mais alto, na vulcânica
desolação em que te roubei um beijo que
me deste com o hálito sulfúreo da Terra
e nele o murmúrio Agora sabes quem Sou.
Sentias na pele o mar novo tépido das ilhas.
Deixei-te estendido no basalto aquecido ao
sol e sobre o esfagno da caldeira e aquele
silêncio de ausência das coisas dos homens.
Deixei-te no ponto mais alto, na vulcânica
desolação em que te roubei um beijo que
me deste com o hálito sulfúreo da Terra
e nele o murmúrio Agora sabes quem Sou.
domingo, 18 de abril de 2010
Fragmentum XV - in manibus pectoreque
Nas mãos a plenitude de um corpo silente, morno, e no peito a ânsia por uma improvável absorção.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Ilhéus X - Há na cidade uma ilha
Há na cidade um mar que a submerge,
mar profundo de azul insular.
Há urze e faias nos prédios
em metamorfose e no ar
o cheiro a terra húmida
e negra, fértil de enxofre.
Há em Lisboa uma ilha,
quando acordado esqueço a cidade.
mar profundo de azul insular.
Há urze e faias nos prédios
em metamorfose e no ar
o cheiro a terra húmida
e negra, fértil de enxofre.
Há em Lisboa uma ilha,
quando acordado esqueço a cidade.
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