X andava na vida um pouco à maneira de Proust, observando a dos outros e o mundo como que espreitando por uma falha no tecido de Einstein, um pé no tempo, outro fora dele, ora em todo o lado, ora em lugar nenhum. Sabia encontrar nos outros e nas coisas aquela pontinha do fio em que começa o casulo do bicho-da-seda - que em criança me diziam que procurasse e que nunca consegui encontrar - porque o mundo são muitos casulos contidos uns nos outros, do infinitamente pequeno ao incomensuravelmente maior; e percebê-lo é encontrar todas as pontinhas, e desenrolá-las, e descobrir onde se tocam, onde se enriçam. X conseguia-o. X sabia o mundo e as pessoas. Mas X tinha um problema: era incapaz de escrever o que observava. Então X resignava-se e lia Proust.
(A todos os que lerem e o possam pensar: X não sou eu, ou nem sempre, ou não exactamente, ou talvez nunca.)
Auch fühlt er sich fremd in unserer Zeit; als gehöre er zwar zu meiner Familie, aber überdies noch zu einer andern, ihm für immer verlorenen, ist er oft unlustig und nichts kann ihn aufheitern.
(A todos os que lerem e o possam pensar: X não sou eu, ou nem sempre, ou não exactamente, ou talvez nunca.)
Auch fühlt er sich fremd in unserer Zeit; als gehöre er zwar zu meiner Familie, aber überdies noch zu einer andern, ihm für immer verlorenen, ist er oft unlustig und nichts kann ihn aufheitern.
Franz Kafka, in Elf Söhne
4 comentários:
Nunca somos nós...
X era esperto! Gostei de X.
Gostei do texto. :)
"X sabia o mundo e as pessoas" - não sei se sorte a de X ou se azar o de X... percebo porque X não conseguia escrever, acho que era impossível conseguir...
(realmente muito bom este post)
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