segunda-feira, 7 de maio de 2007

Suauis cupido

Enquanto debitava um discurso árido que a minha atenção recusava absorver, eu olhava-lhe para o nariz. Pensava como era belo. Pequeno e recto, erguia-se suavemente na planura da face, quase feminino. Por vezes os seus olhos prendiam os meus. Olhos que outrora foram a minha perdição. Ou salvação? De um castanho sólido, invasivo. Talvez por isso um dia pensei que eram verdes. Só vira aquela impenetrabilidade em olhos de um verde cristalino. Mas são castanhos. Depois lembrei-me das mãos. Baixei o olhar enquanto continuava fingindo interesse nas palavras inúteis que insistia em proferir. Ao ver as mãos, percorreu-me uma onda de doce desejo. Robustas, de dedos delicados, revestidas pela mesma pele leitosa que o percorre por inteiro. Perdi-me então na atracção exercida pela alvura literária da tua pele; e quis que te calasses; e anseei por possuí-la com a paixão que agora é carne.

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